„(...) quando narro algo através de histórias, narro algo que se estabelece dentro do espaço de tempo cronológico, mas que se movimeta dentro do espaço de tempo de um tempo ficcional” (A. Giostri)
Mas eu, como pessoa deficiente que vive a realidade do brainfog diário, e sintomas que me fazem viver o tempo de forma diferente – meu próprio crip time – me pergunto: precisamos contar uma história de forma cronológica, ou deixar extremamente claro para o público quando estamos utilizando gaps de tempo, momentos em que näo se segue a lógica cartesiana? Ou será esta uma escolha feita muito tempo atrás, quando a arte tomou os moldes estabelecidos como mais conectados à realidade medida através da teoria cartesiana? Lembro-me de um filme, que assisti muitos anos atrás, chamado Amnesia, onde a personagem principal tinha amnesia da memória curta. A trama se desenvolvia de tal forma que, o que estava acontecendo, ficava claro depois de algum tempo – não na cena exata do acontecimento. Já em outros filmes – Donnie Darko, por exemplo – o sentido do filme tal como a noção da narrativa de tempo foram se alterando (para mim) a medida em que revi o filme, sendo minha percepcäo do mesmo muito diferente na terceira vez do que na primeira. Se considerarmos que o cinema é algo que foi „fixado“ (isto é: o filme que vi pela primeira vez é o mesmo filme, da mesma edição de gravação, da primeira vez que assisti) e que, mesmo assim – mesmo sem haver aquela „mágica“ do momento presente do teatro e da dança que permitem que uma apresentação difira da outra apesar de ser o mesmo roteiro – o que assisti de Donnie Darko na primeira vez foi diferente da terceira, podemos pensar que a noção do tempo estabelecida pela narrativa da história depende não só de quem a conta, mas também de quem a recebe.
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